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Posted by Thoth3126 on 30/06/2020
“O capitalismo pode sobreviver?”, se perguntou o economista austríaco Joseph Schumpeter. “Não, acho que não”, foi a resposta dele. A reflexão foi feita em uma de suas principais obras: Capitalismo, Socialismo e Democracia, de 1942. O influente economista austríaco não acreditava na ditadura do proletariado nem na revolução socialista do alemão judeu khazar Karl Marx. Pelo contrário, ele rejeitava o que entendia como os elementos ideológicos da análise marxista.
Tradução, edição e imagens: Thoth3126@protonmail.ch
O homem que previu o fim do capitalismo e que ajuda a entender a economia de hoje
Por Margarita Rodríguez – Fonte: BBC News Mundo
Para ele, o que levaria ao fim do capitalismo seria o seu próprio sucesso. “Considero Schumpeter o analista mais aguçado do capitalismo que já existiu. Ele viu coisas que outras pessoas não viram”, disse Thomas K. McCraw, professor emérito da Escola de Negócios da Universidade de Harvard, ao Working Knowledge, o site da universidade.
Schumpeter“está para o capitalismo assim como Freud está para a psicologia: alguém cujas ideias se tornaram tão onipresentes e arraigadas que não podemos separar seus pensamentos fundamentais dos nossos”, disse o acadêmico.
Para Steven Pearlstein, professor da Universidade George Mason, nos Estados Unidos, Schumpeter “foi para a economia o que Charles Darwin é para a biologia”.
Ele foi chamado de um dos maiores economistas do século 20, um gênio, um profeta. Para vários, inclusive, economistas, o século 21 será o “século de Schumpeter”.
A tragédia
Schumpeter nasceu em 1883 em uma cidade da República Tcheca, que na época fazia parte do império austro-húngaro. Ele era filho único e perdeu o pai aos 4 anos de idade. Sua educação ficou a cargo de sua mãe e seu novo marido, que frequentavam a aristocracia local. Embora estudasse direito, o tema que o atraiu foi a economia — Schumpeter se tornaria um dos melhores alunos da Escola Austríaca de Economia.
“Schumpeter era um excelente aluno, leitor incansável, tinha uma mente viva e curiosa, era um mestre em várias línguas”, escreveu Gabriel Tortella, professor emérito de História e Instituições Econômicas da Universidade de Alcalá, no artigo Um profeta da social-democracia, publicado na revista Book. Ele tinha uma personalidade carismática, era mulherengo e amava cavalos. Viveu por um tempo na Inglaterra, onde teve um relacionamento com uma mulher 12 anos mais velha que ele.
Sylvia Nasar, em seu livro “Grande Busca: A história do Gênio Econômico”, conta que se casou com o economista, mas que, com o tempo, ambos reconheceram que o casamento fora um erro. Em 1913, eles se separaram e anos depois se divorciaram oficialmente.
Schumpeter se casou novamente em 1925, desta vez com uma mulher muitos anos mais nova. Mas, um ano depois, uma tragédia abalaria sua vida: sua esposa morreu enquanto dava à luz seu filho, que também morreu pouco tempo depois. Nesse mesmo ano, ele ainda perderia a mãe.
Entre luxo e academia
Schumpeter morou em Viena após a Primeira Guerra Mundial e a queda do império austro-húngaro.
Schumpeter foi ministro da economia do governo socialista que governou a Áustria em 1919. Depois, morou em sete países, em alguns dos quais foi professor e trabalhou como banqueiro de investimentos, o que lhe permitiu fazer uma fortuna — que depois desapareceria. Antes de seu segundo casamento, por algum tempo, Schumpeter levou uma vida de muitos luxos e parecia não se importar de ser visto em público com prostitutas, diz Nasar.
“Schumpeter era um acadêmico brilhante que fracassou retumbantemente como ministro das Finanças da Áustria”, escreveu Pearlstein, vencedor do prêmio Pulitzer, em uma resenha do livro de Nasar publicada no jornal americano The Washington Post.
O economista se estabeleceu nos Estados Unidos em 1932, onde lecionou na Universidade de Harvard pelo resto da vida. Em sua nova casa, diz Tortella, Schumpeter se apaixonou e se casou com uma historiadora de economia chamada Elizabeth Boody, 15 anos mais nova que ele.
Foi ela quem compilou e editou os textos dele sobre a história do pensamento econômico, publicados postumamente (ambos morreram antes da publicação do livro em 1954: ele em 1950 e ela em 1953) no monumental History of Economic Analysis (História da Análise Econômica, em inglês).
Destruição criativa
Durante a Grande Depressão da década de 1930, disse Thomas K. McCraw, “muitas pessoas inteligentes da época acreditavam que a tecnologia havia atingido seu limite, e que o capitalismo atingira seu auge. Schumpeter acreditava exatamente no oposto e, é claro, estava certo“, afirmou McCraw, foi o autor do livro Profeta da Inovação: Joseph Schumpeter e Destruição Criadora.
O conceito de destruição criativa ou destruição criativa foi um dos que Schumpeter ajudou a popularizar. E, segundo Fernando López, professor de Pensamento Econômico da Universidade de Granada, essa ideia é uma espécie de darwinismo social.
“É a ideia de que o capitalismo destrói empresas não criativas e não competitivas”, disse o professor à BBC Mundo, o serviço de notícias em espanhol da BBC. “O processo de acumulação de capital continuamente os leva a competir entre si e a inovar e apenas as empresas mais poderosos sobrevivem”.
Uma ansiedade constante
Essa dinâmica ideal do capitalismo significa que os empreendedores nunca podem relaxar. “Esta é uma lição extremamente difícil de aceitar, principalmente para pessoas de sucesso. Mas os negócios são um processo darwiniano e Schumpeter frequentemente o vincula à evolução”, afirmou McCraw.
Novos produtos aparecem constantemente para substituir os antigos, que se tornam obsoletos. “É um processo contínuo de aprimoramento, e essa é a característica número um do capitalismo”, disse à BBC Mundo Pep Ignasi Aguiló, professor de economia aplicada na Universidade das Ilhas Baleares, na Espanha.
A dinâmica dos negócios leva à “única maneira de sair da competição, que é muito dura, é através de tentativas de redução de custos, o que exige processos de inovação na produção ou através do desenvolvimento de novos produtos preferidos pelos consumidores em relação aos anteriores “, diz o doutor em Economia.
No entanto, as tentativas de redução de custos também podem levar a superexploração de trabalhadores, lobby para regulamentação [corrupção endêmica] e práticas nocivas para o ambiente — temas que muitas vezes são “esquecidos” quando se fala do assunto.
O fim do capitalismo e das meias femininas
Schumpeter usava dois exemplos para explicar suas teorias, um deles foi o das meias femininas. No início do século 20, apenas mulheres da classe alta podiam comprá-las. Mas, após a Segunda Guerra Mundial, eles se tornaram mais acessíveis às consumidoras de diferentes grupos sociais.
“Tornar algo acessível a todos leva a mentalidade socialista a entrar gradualmente nos poros do sistema capitalista e desacelerar sua característica essencial, que é a competição entre produtores”, diz o professor. O raciocínio do austríaco era que, ao “apaziguar a concorrência e acabar gerando igualdade no acesso aos produtos”, o capitalismo chegaria ao seu fim. E Schumpeter fez mais, fixou um prazo para isso: o fim do século 20.
“Ele estava errado sobre isso. Acreditava que até então as condições de disseminação da produção em massa e de produtos entre toda a população fariam todas a pessoas viverem melhor do que o rei da França do século 18 e, portanto, o clamor pelo socialismo seria grande”.
Vítima de seu próprio sucesso
“A ideia era a de que o capitalismo leva à produção em massa, a produção em massa leva a uma riqueza extraordinária que se espalha por uma parte muito importante da população, o que aumentaria o desejo de igualdade”, explica Aguiló.
O automóvel, por exemplo, deixou de ser um produto que apenas uma elite poderia adquirir e passou a estar disponível para milhões de pessoas. “O preço cai, as quantidades aumentam, e isso acontece repetidas vezes com todos os produtos”, diz o professor.
Essa circulação em massa de produtos significa que os padrões de vida dos consumidores aumentam, que há uma “demanda por mais igualdade” e que isso acaba dificultando a essência do sistema: a concorrência”, explica Aguiló.
“Esse grande sucesso da abundância compartilhada, ao alcance de todos, é o que levaria ao fim do capitalismo”.
No entanto, embora a riqueza seja mais bem distribuída em alguns países, o que se viu no mundo desde então foi o contrário: apesar de muitos produtos estarem acessíveis para grande parte da população, o que se vê é uma concentração cada vez maior da riqueza produzida pelo próprio sistema.
Virtude e perigo
Seguindo a lógica de Schumpeter, a concorrência se tornaria, ao mesmo tempo, uma virtude e um problema para as empresas. Segundo López, Schumpeter acreditava que “o processo de acumulação incessante de capital levaria, em algum momento, ao que Marx chamava de tendência decrescente da taxa de lucro”.
“O capitalismo é um sistema incomparável em termos produtivos, é um sistema que, no nível produtivo, eu uso Marx novamente, é o mais progressista da história, mas tem o problema de que a acumulação incessante de capital o leva a competir também incessantemente. Essa competição força as empresas a estar em uma guerra constante para inovar, obter novos mercados, novos produtos. E aí mora o perigo”.
Harry Landreth e David C. Colander, em seu livro História do Pensamento Econômico, explicam que “enquanto Marx havia previsto que o declínio do capitalismo derivaria de suas contradições, Schumpeter especulou que seu fim seria produto do seu próprio sucesso”.
Sua ideia de uma sociedade socialista
Em seu trabalho Capitalismo, Socialismo e Democracia, Schumpeter imaginou o tipo de sociedade socialista que surgiria depois que o capitalismo perecesse. Guillermo Rocafort, professor da Faculdade de Ciências Sociais e Comunicação da Universidade Europeia, inclui o pensador austríaco no grupo de economistas pessimistas ou fatalistas, desiludidos com o capitalismo de sua época.
Enquanto Marx via uma luta de classes entre a burguesia e a classe trabalhadora, Schumpeter percebia uma grande tensão entre um grupo de empreendedores, aqueles que provocam “vendavais capitalistas que levam a um grande crescimento inovador e econômico” e outro composto de empreendedores “que implementam um capitalismo não tão pioneiro, mas calculista, mais conservador “, diz Rocafort à BBC Mundo.
Na sociedade imaginada por Schumpeter, a distribuição da riqueza seria mais justa ainda existiria mercado. Seria uma sociedade em que o valor da igualdade estaria acima de tudo, segundo Aguiló, “o que levaria a um status quo que desacelera a inovação para e na qual, portanto, o peso do mercado na distribuição dos recursos é menor, e o peso do Estado aumenta.”
Landreth e Colander citam Schumpeter: “Os verdadeiros promotores do socialismo não foram os intelectuais ou agitadores que o pregaram, mas os Vanderbilts, Carnegies, JP Morgan e Rockefellers (famílias ricas do início do século 20)”.
Ciclos econômicos
Rocafort explica que Schumpeter reforçou a teoria dos ciclos econômicos como forma de evolução do capitalismo.
“Como se fosse uma montanha-russa, subindo e descendo, (…) Schumpeter refere-se a ciclos econômicos que têm sua origem em inovações tecnológicas e financeiras. Elas causam momentos de grande boom, depois estabilização e depois uma depressão ou recessão”, diz o professor.
O especialista cita como exemplos a quebra da bolsa de 1929 e a crise financeira de 2008. Schumpeter nos faz ver o capitalismo como “um processo histórico e econômico que não tem crescimento contínuo, o que seria desejável, mas um crescimento bastante volátil, e que, em última análise, tem consequências para a sociedade em termos de, por exemplo, desemprego”.
No século 21
“Vários economistas, incluindo Larry Summers e Brad DeLong, disseram que o século 21 será ‘o século Schumpeter’ e eu concordo”, disse McCraw.
“O motivo disso é que a inovação e o empreendedorismo estão florescendo em todo o mundo de uma maneira sem precedentes, não apenas nos casos bem conhecidos da China [mesmo sendo politicamente controlada pelo COMUNISMO] e da Índia, mas em todos os lugares, exceto em áreas que tolamente continuam a rejeitar o capitalismo.”
“A destruição criativa pode acontecer em uma grande empresa inovadora (Toyota, GE, Microsoft), mas é muito mais provável que isso aconteça nas start-ups, especialmente agora que elas têm muito acesso ao capital de risco”, afirmou McCraw. De fato, segundo o autor, Schumpeter foi um dos primeiros economistas a usar esse termo: ele o fez em um artigo que escreveu em 1943, no qual falava de capital de risco.
Os inovadores
Schumpeter, suas idéias e, acima de tudo, o conceito de destruição criativa ganharam uma importância especial nas últimas duas décadas. “É essencial para entender nossa economia”, diz Aguiló. Essa competição de negócios nem sempre significa “dominar o mercado com um produto, mas com uma ideia, com um tipo ou modelo de negócios”.
Rocafort destaca que nessa destruição criativa, inovadores e empreendedores criativos são os principais protagonistas. Um exemplo é como a indústria de tecnologia e seus gigantes como Google e Microsoft ocuparam o espaço de um setor que nas décadas de 20, 30, 40 e 50 era um dos principais: a indústria automotiva.
“Se você observar o preço das ações, as empresas de tecnologia são as mais importantes e são todas americanas”, diz ele.
Um alerta
Por outro lado, especialistas como López pedem cautela na aplicação das idéias de Schumpeter para explicar a economia atual. “Não é conveniente usar categorias históricas porque são sociedades diferentes. As velhas teorias não funcionariam para nós”, diz ele à BBC Mundo. Schumpeter é o produto de uma época e “seu capitalismo não é o capitalismo de hoje”, alerta.
A acumulação de capital era diferente e não tinha nem o alcance global nem o impacto ecológico de hoje. Segundo o professor, o sistema está atravessando barreiras que antes pareciam impensáveis: se um país se industrializa, o emprego aumenta, mas o meio ambiente se deteriora. “Isso não estava na mente [a destruição do ambiente] de Schumpeter, nem John Maynard Keynes. [Na época,] a industrialização era o elemento fundamental do desenvolvimento.”
Mas López reconhece que “aspectos parciais do trabalho de Schumpeter [como destruição criativa] podem nos ajudar a entender o sistema”.
Em transição?
Rocafort também concorda que o trabalho de Schumpeter é sua visão pessoal da realidade em que ele viveu. “Agora temos um contexto macroeconômico que não existia na época: paraísos fiscais, criptomoedas, fundos de investimento especulativos, endividamento excessivo das nações”, explica.
No entanto, ele esclarece que dada a situação de incerteza que enfrentamos hoje diante da economia mundial, faz sentido procurar explicações nos grandes clássicos da economia. “É preciso tentar ver o que se aplica de cada teórico, porque não pode haver ortodoxia ou dogmatismo na economia. Nós idolatramos Keynes e o resultado, como vimos nos últimos 15 anos, está sendo um fracasso”, diz Rocafort.
O economista acredita que Schumpeter e suas ideias como “ciclos econômicos e destruição criativa” podem ajudar a esclarecer alguns pontos do momento que vivemos. “Talvez o modelo econômico atual esteja esgotado e estejamos precisando de novas inovações tecnológicas e financeiras. Ele fala de destruição criativa como aquele novo ciclo causado por um grande desenvolvimento tecnológico. Talvez um ciclo esteja colidindo com outro, como placas tectônicas”, reflete Rocafort.
“E ouvireis de guerras e de rumores de guerras; olhai, não vos assusteis, porque é mister que isso tudo aconteça, mas ainda não é o fim. Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá FOMES, PESTES e TERREMOTOS, em vários lugares. Mas todas estas coisas são [APENAS] o princípio de dores. – Mateus 24:6-8
“E faz que a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos, lhes seja posto um sinal na sua mão direita, ou nas suas testas, Para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tiver o sinal, ou o nome da besta, ou o número do seu nome. Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da BESTA; porque é o número de um homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis[666]“. – Apocalipse 13:16-18
TODOS OS CRÉDITOS PARA: https://thoth3126.com.br/o-homem-que-previu-o-fim-do-capitalismo-e-que-ajuda-a-entender-a-crise-atual/
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