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A Revelação Templária – 7C – Sexo o Sacramento Final

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Posted by Thoth3126 on 05/11/2020


A Revelação Templária – 7C – Sexo o Sacramento Final


Um outro movimento fundiu-se com a Igreja do Carmelo, mas fora fundado mais cedo, em 1838. Eram os irmãos da Doutrina Cristã, movimento instituído pelos três irmãos Baillard, todos sacerdotes. Fundaram duas casas religiosas – também considerando-se católicos – nas montanhas St. Odile, na Alsácia, e Sion-Vaudémont, na Lorena. Ambos eram lugares importantes nas suas regiões, e é um mistério  o modo como os irmãos Baillard conseguiram adquiri-los.


Edição e imagens:  Thoth3126@protonmail.ch


Capítulo 07C – SEXO: O SACRAMENTO FINAL  – Livro The Templar Revelation – Secret Guardians of the True Identity of Christ”, de  Lynn Picknett e Clive Prince.



Capítulo VII C – SEXO: O SACRAMENTO FINAL


Sion-Vaudémont era um importante lugar pagão da antiguidade, consagrado à deusa Rosamerta, e – como se deduz do seu nome – tem uma longa associação ao Priorado de Sião. De fato, uma Ordem de Notre-Dame de Sion, historicamente reconhecida, foi ali instituída, no século XIV, por Ferri de Vandémont, cujo alvará a ligava à abadia do monte Sião de Jerusalém – do qual o Priorado reivindica a origem do nome que adotou.


O filho  de Ferri casou com Iolande de Bar, grã-mestra do Priorado entre 1480-1483, filha de René d’Anjou, o anterior grão-mestre. Iolande promoveu Sion-Vaudémont a importante centro de peregrinação, focando a  veneração na sua Madona Negra. A estátua foi destruída durante a Revolução e substituída por uma Virgem medieval – não negra, retirada da igreja de Vaudémont, que é  dedicada a João Batista. 


Assim, parece ser significativo que uma das novas igrejas dos irmãos Baillard estivesse situada naquele lugar. Estes tinham ideias semelhantes às de Vintras, incluindo a insistência  na futura era do Espírito Santo e na sexualidade sagrada, portanto não é surpreendente que  elas tivessem a mesma origem. O movimento dos Baillard recebeu grande apoio, incluindo  o da Casa de Habsburgo. Mas, em 1852, também foi eliminado.


Depois da morte de Vintras, em 1875, o movimento foi entregue à direção do abade Joseph Boullan (1824-1893) – uma figura ainda mais polêmica. Anteriormente, Boullan seduzira uma jovem freira do convento de La Salette, Adèle Chevalier, e os dois fundaram  a Sociedade para Reparação das Almas, em 1859. Esta sociedade era definitivamente  baseada em ritos sexuais, a sua filosofia global era a de que a Humanidade encontraria a  redenção através do sexo, se a energia fosse usada como sacramento sagrado. Apesar da ideia, em si, parecer  de pura natureza alquímica, Boullan, infelizmente, estendeu os benefícios deste rito ao reino animal.


Diz-se que Boullan e Adèle Chevalier sacrificaram o seu filho, ainda criança, durante uma  missa negra, em 1860. Embora isto seja apresentado como um fato em toda a literatura  moderna, é impossível confirmá-lo junto de uma fonte credível. Se Boullan era conhecido  por ter cometido este crime, parece ter escapado à acusação. É verdade que, nesse ano, ele  foi suspenso das suas funções de sacerdote, mas a suspensão foi revogada alguns meses  depois. Em 1861, ele e Adèle foram presos por fraude (talvez a maneira mais habitual de as autoridades tratarem aqueles que detestam, mas a quem não podem acusar de nada). Ao ser condenado, Boullan foi novamente suspenso dos seus deveres sacerdotais,  mas, mais uma vez, a decisão foi revogada. Depois de ser libertado da prisão, apresentou-se  voluntariamente ao Santo Ofício (na época, o nome oficial da Inquisição) em Roma, que o  declarou não culpado e lhe permitiu regressar a Paris.


Enquanto esteve em Roma, Boullan registou as suas doutrinas num caderno (conhecido por  cahier rose, notoriamente pela cor da sua capa), que foi descoberto pelo escritor J. K. Huysmans entre os seus papéis, depois da sua morte, em 1893. Os pormenores precisos do  conteúdo são desconhecidos – embora tivesse sido descrito como um «documento chocante» – e o caderno está agora fechado à sete chaves na Biblioteca do Vaticano. Todos os  pedidos para o consultar são recusados. É evidente que a história de Boullan tem mais importância do que parece. Superficialmente,  parece uma história de um clube de pervertidos.


Contudo, parece que a Igreja o protegeu,  até certo ponto. Por exemplo, emitiu instruções para que ele não fosse molestado, e há  indicações de que ele estava na posse de algum tipo de segredo, que o protegia. A  história de Boullan adapta-se ao padrão clássico do agent provocateur, que se infiltra numa organização com o fim deliberado de a desacreditar – em benefício de outro grupo  diferente. Isso explicaria as flagrantes discrepâncias da sua vida e das atitudes oficiais em  relação a ele.


Depois de regressar de Roma, Boullan ingressou na Igreja do Carmelo de Vintras e tornou- se seu chefe. A sua liderança provocou um cisma: os membros do culto, que o aceitaram,  acompanharam-no a Lyons, onde estabeleceram o seu quartel-general. Seguiram-se cenas  loucas de licenciosidade sexual – que, mais uma vez, parecem estar notavelmente em  desacordo com a declaração de Boullan: a de que ele era a “reencarnação” de João Batista.


Essa ideia pode ter inspirado, pelo menos, o nome escolhido por J. K. Huysmans (um devoto do culto da Madona Negra), que usou Boullan como modelo do «Dr. Johannès» (um  dos pseudônimos de Boullan) do seu romance sobre o satanismo de Paris, Lá-Bas (Lá em  Baixo) (1891). No entanto, seria um erro tirar a conclusão óbvia – o Dr. Johannes era  retratado como um sacerdote que praticava magia para contra-atacar o satanismo e que foi  mal interpretado pela Igreja, a qual condenava toda a magia como sendo diabólica.  Huysmans protegeu Boullan e passou algum tempo com ele, em Lyons, enquanto fazia pesquisas para o seu romance, mas, apesar de ser muito versado em magia, teoricamente,  pelo menos, manteve-se sempre um verdadeiro filho da Igreja.


A página 183 do livro Lá-Bas continua a ser evocada, sobretudo pela sua chocante descrição de uma missa negra,  que parece ser o relato de uma testemunha ocular. Contudo, os verdadeiros vilões da peça são os rosacruzes, devido à notória batalha mágica entre Boullan e membros de certas  Ordens rosacruzes que floresciam na França dessa época. Podia parecer incongruente  que fossem os rosacruzes os grandes adversários de Boullan e de tudo o que ele  representava. É evidente que o conflito possa ter sido apenas um daqueles choques de  personalidade que habitualmente atingem estes movimentos – mas talvez certos  rosacruzes estivessem alarmados com a falta de reserva de Boullan relativamente aos  seus segredos.


A França tornara-se o refúgio de numerosas lojas ocultistas por este tempo. Várias Ordens rosacruzes representavam uma continuação da fusão de movimentos templaristas – maçônicos –  rosacruzes do sudoeste da França. Embora não fossem estritamente Ordens maçônicas,  eram, de certo, aliadas dos sistemas maçônicos ocultistas, como o Rito Escocês Retificado  e os ritos egípcios. Tanto os grupos maçônicos como os rosacruzes adotaram a filosofia  martinista – os ensinamentos ocultistas de Louis Claude de Saint-Martin. De fato, a  importância do martinismo não deve ser facilmente subestimada: os maçônicos do Rito  Escocês Retificado atual recrutam os seus membros exclusivamente entre os martinistas 


A primeira destas organizações rosacruzes parece ter sido uma ramificação de uma loja maçônica, algo irregular, conhecida por La Sagessa (Sabedoria ou Sophia) de Toulouse. Em 1850, um dos seus membros, o visconde de Lapasse (1792-1867), respeitável médico e alquimista, fundou a Ordem de La Rose-Croix, du Temple et du Graal (Ordem da Rosacruz,  do Templo e do Graal). Um subsequente dirigente desta ordem foi Joséphin Péladan (1859-1918), que também era de Toulouse e se transformou no que se podia designar por  padrinho das sociedades rosacruzes francesas daquela época.


Péladan era um grande perito em ocultismo, tendo sido inspirado pelo escritor francês  Eliphas Lévi (o seu verdadeiro nome era Alphonse Louis Constant, (1810-1875). Péladan  criou um sistema de magia que foi descrito como «catolicismo erótico-mágico» e organizou o popular Salon de La Rose + Croix.


(Curiosamente, foi num cartaz que  anunciava uma destas reuniões que Dante foi retratado como Hugues de Payens, primeiro  grão-mestre dos Templários, e Leonardo é representado como guardião do Graal). Péladan pensava que a Igreja Católica era um repositório de  conhecimento, que ela própria esquecera, e estava particularmente interessado no  Evangelho de João. Também estava avançado, em relação à escolaridade moderna, ao  ter a percepção de que os fidele d’amore eram uma sociedade esotérica, que ele associava especificamente aos  rosacruzes do século XVII.


Péladan conheceu outro ocultista, Stanislas de Guaïta (1861-1898), e os dois fundaram a Ordre Kabbalistique de La Rose-Croix (Ordem Cabalística da Rosacruz), em 1888. Foi Guaïta quem se infiltrou na Igreja do Carmelo de Boullan e, juntamente com Oswald Wirth,  um decepcionado membro daquele culto, escreveu o livro O Templo de Satã, que  denunciava o movimento como sendo diabólico. Esta denúncia provocou um combate de  mágicos, no qual Boullan e Guaïta se acusaram mutuamente de usar meios mágicos para assassinar o outro.


Lamentavelmente, Boullan parece ter morrido de causas naturais, mas, inevitavelmente, a  contenda provocou dois verdadeiros duelos, um entre Guaïta e um dos discípulos de Boullan, Jules Bois, e o outro entre o último e um dos rosacruzes, Gérard Encausse  (mais conhecido por Papus). Os dois duelos terminaram em empates.


Este episódio é um dos favoritos dos autores que escrevem sobre ocultismo, mas nunca foi satisfatoriamente explicado. Por que deveriam Guaïta e os rosacruzes intentar uma vendeta contra Boullan? (Lembremos que, neste contexto, temos apenas a palavra de Guaïta e de Wirth, relativamente às alegadas provocações cometidas por Boullan e pelos seus adeptos.) Em face disto, não existe uma verdadeira ligação, ou razões para disputa, entre as lojas ocultistas e a Ordem de Boullan, essencialmente religiosa.


Contudo, um maior aprofundamento revela o motivo: De Guaïta e um tribunal rosacruciano  já tinham condenado Boullan por «profanar» e revelar «segredos cabalísticos» – isto é, os  ensinamentos que eram considerados domínio dos rosacruzes. (E a condenação  ocorrera a 23 de Maio de 1887, antes de Guaïta se ter infiltrado no grupo de Boullan). Esta  foi a verdadeira razão que os levou a sentir que Boullan tinha de ser obrigado a deter-se.

Parece que outros comentadores não notaram as implicações deste fato: se os ritos de Boullan fossem considerados como algo que pertencia aos rosacruzes, então, também eles deviam ter praticado ritos sexuais. O erro de Boullan, a seus olhos, residia no fato de tornar os ritos públicos.


A Paris do final do século XIX era centro de grande divulgação de ocultismo e de filosofia  – refletindo, talvez, a demanda de fin de siècle da busca de um significado mais profundo da vida.  Atraía todo o gênero de pensadores e artistas, como Oscar Wilde, Debussy e W. B. Keats.  (Como sempre, a verdadeira união europeia era uma irmandade secreta.) Os salões estavam  cheios de caras famosas, que estavam tão ansiosas de aprender fórmulas mágicas como de  tomar conhecimento de boatos, como Marcel Proust, Maurice Maeterlink e a cantora de ópera, Emma Calvé (1858-1942).


Uma famosa beldade, Emma eventualmente organizava as suas próprias soirées para todos os que tivessem alguma coisa interessante  para partilhar – de preferência, algum grande segredo oculto. Estes círculos também incluíam pessoas como Joséphin Péladan, Papus e Jules Bois (um dos muitos amantes de  Emma Calvé).


Muitas das principais figuras destes círculos eram oriundas do Languedoc, incluindo a  própria Emma Calvé. (O misticismo não lhe era desconhecido: fora uma sua parente,  Melanie Calvet, que tivera a famosa visão de La Salette. E, curiosamente, Adèle Chevalier,  a freira que fora seduzida por Boullan e se tornara sua companheira, era uma das amigas de Melanie.) Era Emma Calvé que iria desempenhar um importante papel na complicada  história do abade Saunière, pároco da aldeia do Languedoc, na pequena vila de Rennes-le-Château, que discutiremos mais tarde.


Sugestivamente, em 1894, Emma comprou o castelo de Cabrières (Aveyron), próximo da  sua terra natal, Millau, que, segundo se dizia, servira de esconderijo ao muito procurado  livro do judeu Abraão e que fora usado por Nicolas Flamel para realizar a “Grande Obra”.


Na sua  autobiografia, Calvé registra que o castelo «era o refúgio de um certo grupo de Cavaleiros  Templários», mas, infelizmente, não acrescenta mais pormenores.


Outros importantes grupos ocultistas tinham surgido no Languedoc e vieram a relacionar-se  com as sociedades rosacruzes. Estas foram influenciadas pela Maçonaria da Estrita  Observância Templária do Barão von Hund, embora a maior influência surgisse por  intermédio do conde Cagliostro (1743-1795), uma figura muito difamada.


Geralmente conhecido como charlatão, este natural exibicionista era um genuíno  investigador do conhecimento ocultista. Nascido Giuseppe Bálsamo, adotou o título,  pertencente a sua madrinha, de conde Alessandro Cagliostro. Foi iniciado no ocultismo aos  23 anos, durante uma visita a Malta, onde conheceu o grão-mestre dos Cavaleiros de Malta  – alquimista e rosacruz. O próprio Cagliostro adquiriu o gosto pelo ocultismo e tornou- se alquimista e maçom e foi muito influenciado pela Estrita Observância Templária de  Hund. 


A sua introdução na Maçonaria ocorreu em Gerrad Street, no Soho de Londres, onde  foi iniciado numa loja da Estrita Observância Templária, em Abril de 1777. Viajou por toda  a Europa, mas passou a maior parte da vida na Alemanha, procurando especificamente o conhecimento perdido dos Templários. Também granjeou reputação de curandeiro.


Em 1789, depois de receber autorização do papa para visitar Roma, à chegada foi imediatamente entregue à Inquisição, sob a acusação de heresia e conspiração política – por  ordem do papa – e condenado a prisão perpétua. Morreu nas masmorras da fortaleza de San Leo, em 1795.


Cagliostro instituíra o sistema de Maçonaria «Egípcia» (a loja-mãe foi fundada em 1782,  em Lyons), que consistia em lojas masculinas e femininas, sendo as últimas dirigidas por  sua esposa, Serafina. Lévi descreve este sistema como uma tentativa «para ressuscitar o  misterioso culto de Ísis».


Os frutos das investigações de Cagliostro sobre as sociedades ocultistas da Europa  formavam um corpo de conhecimento conhecido por Arcana Arcanorum (Segredo dos  Segredos) ou AA. Esta expressão foi extraída dos rosacruzes do original do século XVII,  mas a sua coleção de escritos consiste em descrições de práticas mágicas que sublinham  especialmente a «alquimia interna». Como vimos, estas são essencialmente técnicas  sexuais, de caráter idêntico ao tantrismo – mas Cagliostro aprendera-as na Alemanha com  os grupos rosacruzes.


Foi com autorização de Cagliostro que o Rito de Misraïm foi criado em Veneza, em 1788.  Em 1810, os três irmãos Bédarride introduziram o sistema na França, onde foi incorporado  na Maçonaria do Rito Escocês Retificado.


O Rito de Misraïm foi o antecedente direto do Rito de Mênfis (Egito) – que, como vimos, fora  fundado por Jacques-Étienne Marconis de Nègre, ao qual o Priorado de Sião se associou.  (Os dois sistemas unificaram-se como Rito de Mênfis-Misraïm, durante o grão-mestrado de  Papus, que manteve a sua direção até à morte, em 1918.) O Rito de Mênfis também estava  relacionado com uma sociedade secreta, os Filadelfianos, que fora fundada pelo marquês de  Chefdebien, em 1780 – outra ramificação da Estrita Observância Templária de Hund,  embora fosse especialmente destinada à aquisição de conhecimento ocultista. Marconis de  Nègre reforçou a estreita ligação com os filadelfianos e denominou um dos graus do seu  movimento «Os Filadelfos».


Nenhum dos ritos – de Mênfis ou Misraïm – era, por si mesmo, particularmente influente.  Mas, em conjunto, como Mênfis-Misraïm, eram um poder a ter em consideração, e as suas  influências se alastraram, como uma onde gigantesca, pelo secreto mundo do ocultismo  europeu. Entre os seus membros encontravam-se celebridades misteriosas, como o ocultista  britânico Aleister Crowley, e luminares místicos, como Rudolf Steiner. E também Karl  Kellner, que, eventualmente, em conjunto com Theodore Reuss, iria fundar a Ordem dos Templários do Oriente, mais conhecida simplesmente por OTO.


Esta organização era – e é – explicitamente relativa à magia sexual. E, embora seja  geralmente considerada como representação da ocidentalização do tantrismo, era também o desenvolvimento lógico dos segredos  ensinados no Mênfis-Misraïm – os quais provinham do conhecimento transmitido a Cagliostro pelos grupos alquímicos rosacruzes da Alemanha e pelas lojas da Estrita Observância Templária.


Crowley abandonou o rito Mênfis-Misraïm para aderir à OTO, tendo-se tomado seu grão- mestre, e Rudolf Steiner foi outra figura influente que abandonou o primeiro para ingressar  na OTO. Steiner foi mais famoso pelo seu gênero «puro» de misticismo – antroposofia – e,  deliberadamente, minimizou a sua associação com a OTO, com tanto êxito que muitos dos  seus ardentes seguidores modernos não têm conhecimento dela. Quando morreu, no  entanto, foi enterrado com as suas insígnias da OTO.


Curiosamente, Theodore Reuss escreveu que a magia sexual da OTO era: «a CHAVE que  abre todos os segredos maçônicos e herméticos […]». E acrescentou, sem rodeios, que a magia sexual era o segredo dos  Cavaleiros Templários.


Outra ramificação do movimento Mênfis-Misraïm tomou forma em Inglaterra, no final do  século XIX: a ordem hermética Golden Dawn, cujos membros incluíam o empresário  teatral Bram Stoker, mais famoso por ser o autor de Drácula, Aleister Crowley, o poeta,  patriota e místico W. B. Yeats e a sociável Constance Wilde, esposa do condenado Wilde.  Fundada em 1888 por Macgregor Mathers e W. Wynn Westcott, a sua linha direta de  descendência remonta à Cruz Ouro e Rosa, a Ordem da Estrita Observância Templária da Alemanha, discutida no último capítulo, e muitos dos seus graus e rituais têm a mesma  origem.


A Golden Dawn também praticava ritos provenientes de Mênfis-Misraïm.  Afinal, a ordem devia o seu patrimônio ao barão Von Hund – em última análise, as  influências alemã e francesas remontam a Von Hund e aos seus ritos templaristas. A Golden Dawn é muito mais conhecida no mundo de língua inglesa do que outros grupos  europeus mais exóticos.


Tem reputação de grande integridade e parece, à primeira vista, ser uma sociedade de  esotéricos, que gostam de vestir trajes de cerimônia e proferir encantamentos, mas que,  basicamente, eram pouco mais do que ocultistas de altos ideais, que se reuniam depois de  jantar. Contudo, entre os eruditos ocultistas franceses, a Golden Dawn tem uma reputação  muito mais sinistra; quando inaugurou a sua filial parisiense, em 1891, admitiu muitas das  figuras mais dúbias que já discutimos, incluindo o aparentemente ubíquo Jules Bois.


De fato, mesmo a Golden Dawn inglesa tinha um aspecto pouco conhecido e mais  profundo. Efetivamente, eram duas ordens distintas: por um lado, tinha um rosto público  conhecido e respeitável, por outro, existia uma ordem interna, denominada a Rosa de Rubi e a Cruz de Ouro, na qual a iniciação era feita apenas por convite. A ordem externa parece ter atuado como campo  de recrutamento para o secreto círculo interno, cujas práticas incluíam ritos sexuais.


É certo que a Golden Dawn guardava bem os seus segredos. Durante anos, mesmo os  escritores, como Katan Shu’al, que fazem parte do mundo ocultista apenas podiam  especular sobre os ritos sexuais daquela ordem. Contudo, parece que eles existiam, de  fato, embora as provas sejam fragmentadas. Na realidade, parece que os elementos sexuais  estiveram presentes desde a fundação da ordem. A Golden Dawn desenvolveu-se a partir de  uma outra sociedade, a Societas Rosicruciana de Anglia, que teve entre os seus fundadores  um certo Hargrave Jennings (1817-1890), cujos escritos eram tão explícitos quanto os de  um cavalheiro vitoriano podiam ser sobre o tema da magia sexual.


Na sua obra compacta  The Rosicrucians: Their Rites and Mysteries (1870), Jennings, nas palavras do autor Peter  Tompkins, «sugeria, o mais insistentemente possível, que estes ritos e mistérios eram de  uma natureza fundamentalmente sexual». Por exemplo, ao discutir o simbolismo  sexual dos triângulos interligados que formam o Selo de Salomão (ou a Estrela de David),  Jennings acrescenta, explicitamente:


[…] a pirâmide indica o correspondente poder feminino, tumefato ou emergente – não  submisso, mas correspondentemente sugestivo, sincronizado no clítoris anatômico […] esse  minúsculo e excêntrico objeto, que significa tudo na anatomia rosacruz.


A 18 de Julho de 1921, Moina Mathers – uma das fundadoras da Golden Dawn (e irmã do  filósofo Henri Bergson) – escreveu a Paul Foster Case, tutor da filial nova-iorquina da  ordem, ao saber que ele estava ensinando ritos sexuais:


Lamento que alguma coisa sobre a questão sexual se tivesse registado no templo, nesta  fase, porque nós apenas começamos a abordar diretamente questões sexuais, em graus  bastante mais elevados […].


Depois, quando a escritora ocultista e membro da Golden Dawn, Dion Fortune (Violet Firth  era o seu verdadeiro nome) escreveu artigos sobre sexo, Moina queria expulsá-la por trair os segredos da ordem. Mas, eventualmente, teve de reconhecer que Dion Fortune não os  podia ter conhecido porque não atingira os graus necessários. Comentadores, como  Mary K. Greer, admitem agora que há provas que apoiam a idéia de que a Golden  Dawn praticava, na realidade, magia sexual, que é considerada demasiado poderosa e preciosa para ser desperdiçada com os mais recentes membros recrutados e com graus  inferiores.


Indicações sobre os segredos internos da Golden Dawn também se encontram nas palavras  que descrevem uma visão conjunta que Florence Farr e Elaine Simpson, duas adeptas daquele sistema, tiveram em 1890. A primeira, uma famosa atriz do teatro londrino,  também era célebre pelos seus casos amorosos com vários homens, incluindo George  Bernard Shaw e o irmão ocultista W. B. Yeats. Florence e Elaine, sua colega de magia,  empreenderam, em conjunto, uma viagem astral – uma espécie de aventura geminada nos  Planos Interiores ou uma alucinação partilhada. Este fenômeno é uma parte muito comum  da preparação mágica e faz parte da «trajetória» cabalística, uma espécie de projeção ou  associação de imagens astral que se enquadra na clássica estrutura da «Árvore da Vida».


Florence e Elaine partiram para visitar a «esfera de Vênus», na sua visão mental conjunta.  O culminar da sua viagem astral revestiu a forma de um encontro com um surpreendente  arquétipo feminino, que disse, com um sorriso:


 “Sou a  poderosa; a mais poderosa do mundo. Sou aquela que não combate, mas é  sempre vitoriosa. Sou aquela Bela Adormecida que os homens sempre  procuraram. Os caminhos que conduzem ao meu castelo estão rodeados de  perigos e ilusões. Os que não me encontram adormecem; ou podem perseguir  sempre a Fata Morgana, que desencaminha todos os que sentem influência  ilusória. Eu elevo-me nas alturas e atraio os homens para mim. Sou o  desejo do mundo, mas poucos me encontram. Quando o meu segredo for  revelado, será o segredo do Santo Graal […]”
 

“Dei o meu coração ao mundo, que é a minha força. O Amor é a Mãe do Homem-Deus,  dando a quinta-essência da sua vida para salvar a Humanidade da destruição e mostrar-lhe o  caminho para a vida eterna. O Amor é a Mãe do Cristo-Espírito, e este Cristo é o amor  supremo. Cristo é o coração do amor, o coração da Grande Mãe ÍSIS, a Ísis da Natureza. Ele  está na expressão do poder dela. Ela é o Santo Graal, e Ele é o sangue vital do Espírito que  se encontra na taça”.


Estas palavras eram acompanhadas de vivas imagens de uma taça que continha um fluido  cor de rubi e uma cruz de três braços.


À primeira vista, isto pode parecer uma trapalhada, típica da «New Age», com Jesus e a  deusa egípcia ÍSIS confundidos com a noção do santo Graal, simplesmente porque parece  arcano e místico. Mas, como escreveu o falecido perito ocultista Francis X. King, há dois  pontos importantes nesta visão: «O primeiro é a identificação da Virgem Maria, `Mãe do  Homem-Deus’, com Vênus, deusa do amor – isto é, o amor sexual, eros, não ágape. O segundo é a identificação do Graal… com  Vênus, o arquétipo do yoni ou órgão de reprodução feminino.”


Muitos leitores modernos talvez interpretassem cinicamente a visão conjunta destas  senhoras como uma espécie de realização desejada, uma fantasia sexual conjunta,  especialmente se considerarmos a colorida reputação de Florence Farr, a contrapartida  britânica de Emma Calvé. Contudo, foi suposto que a visão tivesse revelado um segredo,  que estava em harmonia com a filosofia mágica da Golden Dawn, e Francis X. King  mostrou-se intrigado quanto à origem das imagens que as duas mulheres referiram, considerando que a sociedade não estava, supostamente, relacionada com qualquer tipo de  rito sexual. Esta visão, no entanto, sugere fortemente que estava, embora também estes  ritos pareçam estar destinados apenas aos iniciados nos mais altos graus, o círculo interno.


É significativo que a visão associe ÍSIS ao Graal e ao sexo, o que não teria sido estranho aos  alquimistas, aos gnósticos ou aos trovadores. Que o Graal – considerado aqui como a taça  tradicional – seja um símbolo feminino é facilmente compreendido pela nossa sociedade  pós-freudiana, mas era ainda uma revelação para os que a antecederam. Mas, aqui, o fluido  vermelho, o sangue que ele contém, é transportado por ÍSIS…


Curiosamente, o tema da Bela Adormecida, mencionada no relato da visão das duas  mulheres, também figura largamente em Le serpent Rouge (A Serpente Vermelha), o texto-chave do Priorado de  Sião. A busca da Bela Adormecida é um tema repetido e está entrelaçado com o da  demanda da rainha de um reino perdido. Como vimos, esse documento também revela uma  preocupação com Maria Madalena e ÍSIS, combinando as duas, de forma característica, na  mesma figura.


A demanda de uma rainha é uma imagem alquímica, portanto não nos devíamos  surpreender por encontrar estas personificações de sexualidade – Madalena e ÍSIS – como  seu objeto. Curiosamente, embora, mesmo atualmente, o papel da sexualidade dos  movimentos heréticos e ocultistas quase não seja reconhecido ou admitido, a sua  importância dificilmente pode ser exagerada. O sexo nunca foi uma questão secundária ou  um ponto fraco pessoal, mas esteve no âmago das mais poderosas organizações secretas.


A tradição que mais nos interessa, e que é o motivo desta investigação, está dependente, de  fato, do conceito de sexualidade sagrada. Como vimos, esta tradição parece ser constituída  por dois ramos principais – o da reverência pela Madalena e o da reverência por João  Batista. Nesta fase da nossa investigação, encaramos a possibilidade de que Madalena  fosse apenas uma figura simbólica, que representava a ideia de sexo sagrado, e que a sua  imagem não estivesse relacionada com nenhuma personalidade histórica real.


Em qualquer caso, a relação entre Maria Madalena e o sexo não é difícil de compreender e parece perfeitamente  natural.


Mas não é assim, na realidade, quando consideramos o ramo de João Baptista e a ideia de  sexualidade sagrada. O relato bíblico e a tradição cristã criaram a imagem duradoura e  fascinante de um homem que era extremamente ascético – uma espécie de imagem de John  Knox -, de moral intransigente e de inflexível celibato. Como podia, exatamente ele, ter  sido importante para qualquer culto baseado em práticas sexuais? Superficialmente, parecia  que não havia, e nunca poderia haver, semelhante relação – mas, repetidamente, a nossa  investigação revelava que gerações de ocultistas, pelo menos, acreditavam que ela existia.  E, como vimos no caso da Golden Dawn, as primeiras impressões dos grupos ocultistas podem ser muito enganadoras. A sua verdadeira raison d’être pode ter implicações  surpreendentes.


Florence Farr e os seus colegas da Golden Dawn pertenciam a um vasto círculo de  ocultistas internacionais, que incluíam Pèledan e Emma Calvé. As sociedades a que  estavam ligados eram extremamente influentes e foi aquela rede de sociedades que  constituiu a estrutura de um dos mais famosos mistérios de França; um mistério que tem  uma relação particular com o Priorado de Sião.


O foco de todos os Dossiers Secrets e do material afim emanados do Priorado de Sião é, inequivocamente, o mistério de Rennes-le-Château. Por exemplo, Le serpent rouge fez  repetidas alusões a lugares situados naquela aldeia e em seu redor. Dificilmente podíamos  evitar voltar a nossa atenção para Rennes-le-Château, e encontramo-nos, mais uma vez, no  Languedoc – a pátria da heresia.


Continua …



 

Obrigado por tudo Thoth3126!!!

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